Thursday, April 10, 2008

Lançamento do livro "Nas Asas da Palavra"



"Nas Asas da Palavra" de Óscar Monteiro
Pela Professora EMÍLIA JR. DE OLIVEIRA
Toronto, 17 de Fevereiro de 2005
(Consulado de Portugal, Toronto)


É dificílimo, nos dias que correm, arranjar tempo para o que necessitamos fazer. A família e os amigos queixam-se e, em silêncio muitas vezes, nós queixamo-nos a nós próprios porque nos apercebemos desta realidade. É uma vida «supersónica» e apenas assim porque ainda ninguém inventou uma palavra para a velocidade superior a luz... de que eu tenha conhecimento... será para a geração dos nossos filhos, quiça, mas, não muito mais tarde, creio.

E neste rodopiar constante, perde-se o tempo para outros aspectos preciosos da vida : a Reflexão, a introspecção, a contemplação e a apreciação do SILÊNCIO.

É pois de admirar aqueles que ainda conseguem roubar algumas horas ao tão escasso tempo de sono para poderem saborear e sentir as vozes a que apenas o silêncio pode proporcionar.
O Óscar Monteiro é uma dessas pessoas.

Nascido em Pangim, Goa, estudou em Moçambique onde completou o primeiro ano da Universidade e em 1974 foi para Portugal onde em 1977 casou com a tão celebrada Rosa Maria dos seus sonetos. Mais tarde veio para o Canadá onde completou os estudos em Psicologia na Universidade de York. Algum tempo depois obteve a Licenciatura de Educação na Universidade de Toronto.

Trabalhou em escritorios de advogados durante algum tempo e depois para a Ford Electronics onde durante alguns anos exerceu o cargo de editor da revista «News and Views». Simultaneamente, ao cair da tarde, juntava, e continua a juntar-se, ao grupo de professores que se dedicam ao leccionamento da Língua e Cultura Portuguesa aos filhos de emigrantes da nossa comunidade. Durante muitos anos trabalhou para a escola do First e, hoje é director da Escola Portuguesa "A Caminho do Saber".

Não é tarefa fácil!
E... não se fica por aqui!
Pois quem conhece o Óscar de perto sabe que ele tem um dom muito especial para a música e que toca piano e guitarra com uma sensibilidade extraordinária !

Assim faz sentido que esta sensibilidade se transferisse para o sonho e para o papel. Esta evolução é natural e ao mesmo tempo a concretização dos sentimentos que, principalmente nos seus poemas dedicados a Moçambique e aos Açores, está bem patente.

É facílimo "ouvir" a música do marulhar das ondas nas praias, de apreciar os aromas e perfumes e de «ver» os verdes e os azuis ao ler as suas homenagens as ilhas dos Açores...

A sua poesia esta repleta de efeitos cinestésicos que nos transportam para bem longe, para os lugares protegidos da sua infância e juventude, em que homenageia os pais pela delicadeza e coragem; para os «desvios» que teve de tomar a fim de tentar sacear a sua curiosidade, até chegar ao país que o recolheu, «onde vive numa região entre dois mundos : entre o mundo longínquo onde está mas não reside e o mundo onde reside...mas não está». Esta imagem, por qualquer razão, é-me muito familiar...

É aqui que ele da "asas" ao seu sonho, «a sua palavra guiada e protegida» pela sua musa e Criação: a «Citoleia ». Creio ser este o inicio duma «Mitologia Oscariana », se me permitem, que ainda está em embrião mas já consciente nos seus poemas.

No preâmbulo desta sua segunda obra, o autor filosofa sobre o que é poesia. E, se bem que o Óscar constantemente se refer, e com successo, através de toda a sua obra aos clássicos da literatura e filosofia, eu vou referir-me a dois nossos contemporâneos.

Carlos Paião disse que «para ser poeta era necessário ser-se sofredor» e José Cid, num dos seus poemas refer que não se pode ser poeta sem se ter poesia. O Óscar define a poesia como uma forma de arte, que dá significado a existência humana e por conseguinte uma necessidade humana fundamental. Assim sendo, usando as palavras do autor, todos temos «necessidade de passar pela experiência e explorar a sua existência com "significado". Como tal, senhores e senhoras, de uma forma ou outra, todos somos poetas ou poetisas que na maioria, creio, ainda não deu «asas as suas palavras».

Mas, ser poeta é tambem ser pintor de telas cujas palavras são tintas em que cada leitor, imagina e vê o quadro a sua maneira; é ser-se sofredor, senão não se consegue ter a sensibilidade necessária de experimentar e explorar a existência e, de igual modo, é necessário ter-se poesia...a fim de poder transmitir todo o empirismo dessa mesma existência.

Mas, na minha opinião, ser-se poeta é ser-se corajoso pois, compartilhar com o mundo o que nos vai na alma não é tarefa fácil ! Porque o que temos para dizer não só nos desvenda os sentimentos e experiências mais íntimas, fazendo de nós alvo certo de jocosos sem escrúpulos, como também expõe as nossas opiniões mais delicadas e de fácil interpretação errada, ao sabor de uma maré tempestuosa, como no seu soneto MARIOLATRIA : uma verdadeira crítica aos pseudo-religiosos. E o Óscar vai ainda mais longe ao divagar e trabalhar (porque escrever é TRABALHO) noutras línguas que não a nossa como o Inglês e o francês.

Entre quadras e sonetos, com uma riqueza de linguagem rebuscada e erudita, clássica e moderna, com conhecimentos histórico-literários, de mitologia clássica e de ditados populares, e o cuidadoso uso de figuras de estilo que são, indubitavelmente, uma dádiva preciosa ao leitor, o Óscar apresenta-nos amigos, colegas e família que, de uma forma ou outra, o tocaram, tal como na sua homenagem a colega e amiga, D. Margarida, sua «sereia açoreana» ou a sua saudosa falecida irmã Alzira.

Transporta-nos assim, num vaivem cultural entre um passado bem longínquo e um presente teimoso em passar, dentro de uma "nuvem psicológica de sonho e realidade” ! "Será fantasia ou realidade próxima? Que importa ? No reino da poesia, no cosmo do vocábulo, tudo, - o impossível - se torna possível - nas asas da palavra. Por isso, quando o homem perde o contacto com a poesia, ele perde a sua alma." Gostaria de convosco compartilhar dois sonetos. Um aborda o tema do sonho O outro É uma chamada a nós próprios.


A CHAMA QUE NOS CHAMA!
(Página 166 do livro)

É sempre estimulante alto sonhar!
Mesmo que alguém nos diga que não,
Que nos queira desapontar e magoar.
Sonhar, e alto, é nunca tempo em vão!

O Sonho, a semente latente da acção,
É a chama com que a vida nos chama!
Quem por ele alto e lauto não clama,
Tem alma insípida, não tem ambição.

O que cresce na galeria grandiosa
Do mundo são sonhos, que suponho
Fez magotes de gente ficar famosa.

Por morrer o sonhador não morre o Sonho,
Nem da primavera a flora verde e viçosa,
O Sonho é a "lei mental" do fruto risonho.


CONHECE-TE A TI PRÓPRIO
(Página 169)

Já muito, muito longe o homem chegou!
Desbravou as terras perto da sua cabana,
E as que ficavam p'ra além da Taprobana,
Com as frágeis caravelas com que viajou.

E para mais além sua curiosidade o ateou!
Após cruzar os mares da região africana,
Sem muito lhe permitir a sua asa humana,
No vasto oceano do espaço se aventurou.

Agora com o universo todo já descoberto,
Tem o homem que navegar por mais perto,
E descobrir o que vai dentro de si mesmo.

Ou então não viverá por não saber quem é;
E não sendo, não poderá suster-se em pé,
E tudo desabará por ter viajado a esmo...



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